sábado, 11 de fevereiro de 2012

SUBIR OU NÃO SUBIR: EIS A QUESTÃO!


E aí, pensando sobre a minha passagem, imagino a seguinte cena:

Chegaria eu às portas daquele elevador dourado, sozinha, e sairia de dentro dele aquele São Pedro de barbas brancas, a me dizer, bonachão:
_ Sobe, minha filha?

Eu, calada e solene, entraria no elevador, que prontamente se poria a subir.
No longo trajeto, muitas cenas se passariam nas paredes do elevador, como em uma tela de televisão, mas se engana quem pensa que seriam cenas da minha vida passada. Não.
As cenas seriam do que me esperava no céu, do tipo propaganda de condomínio cheio de acessórios, só que mais interessante.

E nessas cenas, quem eu via? Pessoas que fizeram parte da minha vida, e que já estavam lá, alegres, a gozar das bênçãos do Criador.

Eu ficaria calada, ainda solene, apenas a observar as cenas que passavam. São Pedro, ainda bonachão, perceberia meu desconforto:
_ O que te aflige, minha filha?
_ É que eu descubro que era exatamente como eu pensei, um dia, São Pedro.
Ele rindo, me responderia:
_ Minha filha, não se preocupe com isso! Você poderia ter feito, sim, diferente, mas o resultado seria o mesmo! 

_ Mas eu nunca conseguiria ter feito diferente! O senhor quer me dizer que eu não deveria ter dedicado um pouco do meu tempo aos que eu mais amava?!
_ E que mal há em viajar, curtir mais a vida? – piscou um olho para mim.
_ Nenhum – eu responderia – exceto quando nossos pais precisam tanto de nós e somos tão poucos!
_ Minha filha, você se preocupou demais! – ria ele, bonachão – tudo terminou bem, não foi?
_ Então o senhor me diz que eu deveria ter sido mais egoísta e egocêntrica?
_ Não seja tão radical, minha filha!

_ E aquela historia dos dez mandamentos? E aquele mandamento de honrar pai e mãe?!
_ Não se perturbe com isso, filha! – ria o bonachão – esqueceu que eu mesmo reneguei o Cristo três vezes?! E hoje eu estou aqui, decidindo quem sobe e quem desce!

As cenas de alguns parentes felizes no céu continuavam a passar pelas paredes do elevador, que subia inexorável.
Reparei que não via todos da família; resolvi perguntar:
_ E onde está a minha irmã? Aquela que...?
Ele não me deixou terminar:
_ Fumava e bebia muito, minha filha... tsc, tsc... – quase ficou sério – aqui não era o lugar dela...
_ E o meu irmão que...?
_ Teve muitas mulheres, minha filha... pobre rapaz... – meneou a cabeça, quase triste, me interrompendo mais uma vez.
_ Então no céu só estão os salvos?! Aqueles que só oravam?!
_ Minha filha, “Não só de pão vive o homem, mas de toda Palavra que procede da boca de Deus" – citou o livro de Mateus.

O elevador parou, a porta abriu-se; o velho bonachão saiu e estendeu-me sua mão, solene:
_ Venha, minha filha!
E eu, ainda dentro do elevador:
_ Quer saber, São Pedro? Melhor não! – e apertando o botão – Vou descer!

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