quinta-feira, 23 de julho de 2009

INTOXICAÇÃO PELO MERCÚRIO: PERIGO PARA A SAÚDE DO TRABALHADOR

O Mercúrio é um metal líquido, que se volatiliza facilmente, mesmo à temperatura ambiente, dispersando–se e contaminando, assim, a atmosfera do local de trabalho. Quando aquecido, transforma–se em um gás incolor e inodoro. Sua evaporação aumenta com o aumento da temperatura, podendo evaporar – se até oito vezes mais, em uma elevação de temperatura de 20 º C a 50 º C.
O mercúrio metálico é responsável por um grande número de intoxicações agudas e crônicas, em saúde ocupacional, com graves seqüelas e até óbitos. Muitas doenças causadas por esse metal podem ser diagnosticadas erroneamente como de outras causas, se o profissional de saúde não conhecer a história ocupacional do trabalhador e os riscos da exposição ao mercúrio.
Estima – se que, pelo menos, noventa tipos de atividades estejam expostas ao mercúrio. Dentre essas, podemos citar Indústrias de cloro-soda, equipamentos eletrônicos, termômetros, lâmpadas fluorescentes e neon, amálgama odontológico, produção de polpa de papel, corantes e tintas, garimpo de ouro e prata, Indústria de jóias, medicamentos, prateação de espelhos, manufatura de tintas, produção de acetaldeído, desinfetantes, explosivos, laboratório químico/fotográfico, conservantes de madeira, produção de chapéus de feltro, refinarias de petróleo, usina nuclear, metalurgia, cosméticos e perfumes, conservação de peles de animais, anti-séptico, manufatura de papel, Inseticidas, fungicidas, e herbicidas aplicados na agricultura, produtos para conservação de sementes e catalisador.
O mercúrio e seus componentes tóxicos penetram no organismo por inalação, absorção cutânea e por via digestiva. As três formas são tóxicas, mas cada uma delas possui características toxicológicas próprias. A principal via de penetração é a respiratória, em até 80% dos casos, sendo que 80% do mercúrio inalado ficam retidos no organismo. Deposita-se em vários órgãos como o rim, fígado, testículos, tireóide, membranas do trato intestinal, glândulas salivares, medula óssea e baço; atravessa a barreira hemato-encefálica e aloja-se no Sistema Nervoso Central (SNC); também atravessa a barreira placentária, atingindo o embrião/feto
A eliminação do mercúrio dá - se pela urina, fezes, saliva, suor e o ar expirado. A permanência desse metal no corpo humano é, em média, sessenta dias, mas no SNC ultrapassa um ano, e não há provas de que ele seja totalmente eliminado do organismo.
Um exemplo dos males que o mercúrio causa foi observado na cidade de Minamata, no Japão (1960), onde uma indústria que usava metilmercúrio, e despejava seus resíduos na Baía de Minamata, contaminando água e peixes, causou a morte de sessenta e cinco pessoas, e o nascimento de crianças com grandes distúrbios genéticos, principalmente neurológicos.
Na Inglaterra do Rei Eduardo VII (1902), fabricantes de chapéus de feltro, expostos ao mercúrio utilizado no processo de feltração, apresentaram uma síndrome conhecida como Dança de São Vítor, caracterizada por contínuos movimentos involuntários dos músculos da face e das extremidades, além de distúrbios psiquiátricos, o que deu origem à doença conhecida como ¨loucura dos chapeleiros¨, e à expressão ¨louco como um chapeleiro¨.
Zavariz & Glina (1993) realizaram estudo, em uma fábrica de lâmpadas elétricas de Santo Amaro - SP., em 91 trabalhadores, entre homens e mulheres, com idades entre 20 e 65 anos, expostos ao mercúrio metálico utilizado na fabricação de lâmpadas fluorescentes, com tempo de serviço variando entre 4 meses e 30 anos. Dos 91 trabalhadores avaliados, 84,62% apresentavam quadro de intoxicação por mercúrio, com manifestações da doença que iam desde amolecimento dos dentes até distúrbios neurológicos.
A legislação brasileira, através das Normas Regulamentadoras (NR´s) do Ministério do Trabalho, e a Organização Mundial de Saúde (OMS) estabelecem um Limite de Tolerância Biológica (LTB) para o trabalhador exposto ao mercúrio, mas muitos pesquisadores afirmam que não há um limite seguro, e que o ideal é que as medidas preventivas sejam efetivas e constantes, para garantir a saúde do trabalhador.
A NR15 lista o mercúrio como um dos principais agentes nocivos que afetam a saúde do trabalhador, referindo – o como grau máximo de insalubridade. Dentre os metais que causam doença ocupacional, é o que apresenta a maior diversidade de efeitos (neurológicos, psicológicos, cardio -respiratórios, gastrintestinais, renais e bucais).
Muitas doenças causadas pelo mercúrio são irreversíveis, podendo deixar o trabalhador permanentemente inapto para o trabalho, o que significaria um ônus muito maior do que a adoção de medidas de proteção e prevenção que valorizam o trabalhador.

Anna Borges Louzada
Odontologia Legal e do Trabalho
CRO – AM 1192


ZAVARIZ, C., GLINA, D.M.R., Efeitos da Exposição Ocupacional ao Mercúrio em Trabalhadores de uma Indústria de Lâmpadas Elétricas Localizada em Santo Amaro, São Paulo, Brasil. Cad.Saúde Públ., Rio de Janeiro, 9 (2): 117 – 129, abr/ jun, 1993.

Nenhum comentário:

Postar um comentário